Salazar conseguiu equilibrar as finanças portuguesas com várias medidas restritivas, fazendo de Portugal um país reconhecido pela sua estabilidade financeira. “Livrei-vos da guerra, mas não vos livro da fome”. Esta frase foi reconhecida e dá-nos a perceber as carências que se viveram na altura. No pós-guerra, havia muita falta de géneros, por isso houve um racionamento alimentar, abasteciam-se de senhas fornecidas pelo Estado, consoante o agregado familiar.
Eu, Maria Sabrina, nascida em 1937, na vila de Borba, coração do Alentejo, não fui muito atingida por estas restrições, uma vez que pertencia a uma família de agricultores, onde trabalhava quase toda a família, sendo auto-sustentáveis. Tínhamos gado, campos agrícolas e frutas. Ao mesmo tempo, empregávamos muita gente que ali comia também. Rotativamente, ficava um trabalhador para fazer o almoço para os restantes.
Havia, no entanto, muita protecção e controlo no fornecimento dos pesos e medidas certas dos géneros levantados pelas famílias. Passou-se comigo, que indo um dia comprar pão com senha, fui abordada por 2 elementos da Guarda Republicana, que me levaram à padaria, para rectificar o peso do pão, porque quando não estava o peso certo, o comerciante tinha que rectificá-lo, acrescentando uma pequena fatia de pão, até ficar equilibrado, chamava-se o “contrapeso”.
Quanto à educação, também não tive problemas, porque fiz até à 4ªclasse, numa escola pública em Borba, passando depois para Évora, para um colégio interno, “As Doroteias”. Neste, fiz o curso que era mais usual nas raparigas, “Formação Feminina”, que me deu acesso ao que se poderia hoje chamar Educadora de Infância. Aos 18 anos, já trabalhava no “Patronato da Nazaré”, também colégio particular.
Eu própria, como jovem, fiz parte da mocidade portuguesa e mais tarde, como instrutora. Gostei muito da experiência e penso que, à parte a questão política, era uma instituição que ainda hoje seria benéfica para orientar a juventude.
Aos 24 anos, assumi o cargo de dirigente de uma casa de rapazes, chamada “Casa de Correcção”, que pertencia ao serviço tutelar de menores. Apesar das várias mudanças que os serviços sofreram ao longo dos anos (após o 25 Abril), ali me mantive até à data de aposentação (38 anos de serviço).
Cláudia Dias
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